segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Vivendo e vivenciando

"O importante da luta é saber que ela sempre existirá para que possamos estar cada vez mais fortes, até mesmo quando perdemos".
Rodrigo Veras

Eu tenho vivido nesses três últimos anos um monte de coisas boas relacionadas a arte, sobre tudo o teatro, em ser um artista que muitas e muitas vezes se vê sendo mais produtor ou gestor do que artista, mas são coisas que se fazem necessárias na vida de muitos artistas por esse Brasil a fora. Não vamos lamentar as dificuldades, pois se pararmos para analisar, fazer arte nesse país é muito mais do que um desafio, é quase um sacerdócio, pois você se entrega de uma forma onde muitas vezes faz jornada dupla em outra profissão para conseguir fazer sua arte, quando na verdade deveria ser somente a sua profissão. Minha vida atualmente está centralizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro de Santa Cruz, que faz 450 anos de existência nesse ano de 2017, desde que cheguei aqui vivenciei a grande dificuldade que esse bairro enfrenta na parte de transporte público, você muitas vezes demora mais a sair de um sub-bairro para outro do que ir de Santa Cruz a Campo Grande por exemplo. Isso influencia e muito a questão da vida cultural do bairro. O Centro de Artes Casa da Rua do Amor fica a 3km do centro de Santa Cruz, mas só duas linhas de ônibus passa por lá. Essa dificuldade de acesso a outras partes do bairro faz muitas vezes com que o morador, prefira o descanso do lar como o melhor lazer depois de uma semana de trabalho atravessando a Av. Brasil. Mediante a tudo isso, eu posso dizer que faço o trabalho de uma formiguinha, com outras poucas formigas que batalham para trazer Arte e Cultura para esse bairro.

Quero aqui deixar esse texto lindo do amigo Luiz Vaz (um dos fundadores do CTO - Centro do Teatro do Oprimido e é um dos Gestores do Centro de Artes Casa da Rua do Amor) que luta por uma Zona Oeste com mais cultura e que não desiste, mesmo com tantas dificuldades.

VOU MORRENDO DE ZONA OESTE

Vou morrendo de zona oeste. Zona oeste é aqui a causa. Morro-me de longas demoras no transporte, in cansáveis caminhadas pela av. Brasil, de sufocamento cultural, mas, disto eu morro lutando mais que de outras causas. Sei que outros amigos e amigas também morrem de muitas causas nos lugares que vivem. Por certo não vivemos nos lugares, antes morremos, vivemos é no mundo. Aqueles amigos, àquelas amigas que se preocupam comigo, com minha agonia, mesmo quando meu grito quer ser poesia, não me dêem conselho, nem comiserem-se de mim, não me digam pra sair deste lugar antes que seja tarde. Neste lugar há a metade da população da minha cidade, é impossível uma evacuação. Insisto em rejeitar possíveis fatos de que este lugar seja cova ou trincheira. Não é a meu ver sequer buraco feito no chão onde eu broto, cresço e morro como árvore, também não estou acometido de romantismo bairrista. Prisioneiro de uma sina? Não, não sou! Pioneiro? Isso não, outros tantos já sofreram, morreram e até viveram de zona oeste, por onde já circulou alegria que ora gangrena. Quem preside esse complexo presídio? Quem determina que a sucata da sucata da frota de ônibus da cidade, que numa ordem de classe vem da zona sul, norte e morre na oeste? Quem decide que lixão e gente convivam no mesmo ambiente? Faço parte de uma gente cuja a avenida a seguir é uma interrogação sem desvio nem atalhos. Fazer as perguntas é só o primeiro passo, à frente temos 50 km!
Congestionados!
Luiz Vaz


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